27 de setembro de 2011

surto

...e o nervosismo se agravou. e de repente virou angústia.
não o livro. aquele sentimento agudo e doído mesmo. que vem em turbilhão como essas palavras que voam ao papel. e todos os sentimentos reprimidos durante a vida toda surgiram e se jogaram no estômago. E aquele homem que pensava na sua vida prática e vazia de solteiro começou a entrar em um semi-pânico. Ao mesmo tempo em que um vazio no peito e uma pressão no estômago causavam uma sensação de que a morte passava pra dar um oi e bater um papo, numa presença não da eternidade da morte levemente estampada no sono, mas da intensidade do seu processo momentâneo como que apresentado em tempo estendido, se manifestava uma ânsia imperiosa de não deixar transparecer os cúmulos e acúmulos de angústia que se espremiam abaixo da insignificância de um corpo minúsculo em face da simples parcela de sistema estelar, que é parcela de galáxia, que é parcela do que se pode imaginar como universo, que é o planeta terra; e de uma mente limitada que normalmente funciona usando menos de 10% da sua ínfima capacidade.
Nem lendo-se e relendo-se a confusão se solucionava, como pode funcionar com o outro parágrafo. A imensa dor, que não se podia distinguir como sensitiva ou emocional, pois as sintomatizações que surgiam e aumentavam tornavam-na talvez mista, na medida em que algo físico pode não ser emocional, pungia e exigia algum tipo de atitude não ordinária. Surgiam vontades de se agredir alguém ou algo, de se gritar, de se pendurar nas barras do coletivo, balançando e esbarrando nas pessoas, cantando uma música experimental contemporânea mixada com uma faixa de Tom zé Danc-eh-sah, um oh e um ah e um dó ré mi fá com uma sinfonia de Straus em parceria com Edu Lobo. O que se manifestava era uma espécie de gemido, que saía como um vocalize gutural sem sentido que exalava aquele bafo de sanduiche que não quer digerir em um estômago sobrecarregado dessa maldita energia, chame-se chi, cosmos ou pula-pirata de Deus. Mas isso não adiantava e ele olhava em volta já ficando um pouco surpreso de não ouvir um "está tudo bem?" de alguém. Pegava a caneta e tentava escrever alguma coisa que fingiria ser uma ficção na tentativa de aliviar de alguma maneira o problema ao invés de ficar apenas lembrando o poema "Carlos, não se mate". Não adiantava também, o surto começava a se estender à coordenação motora da mão de escrita e as frases "Faca no peito. Faca no peito." começavam a se transfigurar em livre associações que deviam ser passadas ao psicanalista, depois em desenhos enfadonhos e depois em uma série de rabiscos que desfilavam no papel no ritmo suave de um trash metal acelerado que martela a consciência de quem não sabe o que fazer da vida e precisa se liberar. O papel rasga, se passa à outra folha e outra e o leitor já começa a pensar "Caramba! esse negócio não acaba não?" uma espécie de asia fura como uma broca um ponto do estômago que tem dois centímetros de diâmetro no máximo, como se fosse algum tipo de verme ou álien. A náusea vem e ele pensa "cacete, não posso vomitar aqui" faz uma careta depois se encolhe depois se retrai depois vira os olhos e depois olha para as pessoas no ônibus mais uma vez surpreso que ninguém pergunte se está tudo bem quase desejando que aconteça. Deseja que surja algum conhecido apostando que a sensação sesse ao menos temporariamente. Mas o contínuo continua sem divisões racionalizantes que possam explicar de alguma maneira a causa motivo, razão ou circunstância de surgir a lembrança do seriado Chaves em meio ao discurso. e o saco de quem escreve acaba. melhor ter piedade de quem lê e continuar talvez o blábláblá narrativo outro dia.

11 de setembro de 2011

Procura

olhares
vozes
palavras
respostas
idéias
trabalhos
atos falhos
mulheres e mulheres

na net
no blog
na tv
na rua
no céu no sol e na lua

no vestido
no toque
no desejo
nos seus olhos um não sei quê
na linha em suas costas
nos olhos
nos perfis

talvez ser feliz
uma razão
uma loucura
quem sabe
talvez
uma outra procura

4 de setembro de 2011

Lua

a lua
continua
sendo despida pelos velhos poetas
déspotas

pura e simplesmente
pra fazer rimar