22 de dezembro de 2012

Samba enroscado

eu tosco um enrosco
com fio de rosca
um rola enrosque
tupinambá

também se enrosque
não tem problema
dilema lema
ê camará!

fio de machado
brilho colado
corta esse sândalo
sai perfumado

não tem escândalo
ser só no dado
fio de um tecido
comprido fado
de fado afago
só que do avesso
a tona trago
meu endereço

fio de navalha
parangolé
fio de enrosque
a dar de ré
tradidução
do nosso tempo
na nossa estrada

e tome tento
co'a cofonia
ignorada

22 de novembro de 2012

uma certa tristeza

a foto dela aparece na minha frente
algo irreal

"Ta gatona hein!!!!! ;)"

foram anos de busca
(parece)
até aquela posição
até aquela expressão no rosto

like like like like

até a pontaria dos olhos
as mãos num quase gesto

"uhuu! linda!!"

a roupa e o corpo
suavemente provocantes

"linda como sempre! ^^ que saudade! Vamos marcar algo..."

me lembra da presença
me lembra como ela é
me lembra...
talvez algo que eu nunca vi

"*.*"

ela não me vê
por hora nem sabe
que na minha mente
tristemente
se passa
uma novela

...

ainda longe de acabar

5 de outubro de 2012

I ain't got nobody




Não tenho ninguém
e ninguém vem cuidar de mim
Tão triste e sozinho
será que alguém daria uma chance pra mim?

eu canto músicas bonitas
toda hora
porque você não vem ser minha
dizer que me adora?

Não tenho ninguém
e ninguém vem cuidar de mim

29 de agosto de 2012

Meu dia poético

me perdi
a linha era outra e passou do ponto
dei de encontro com a cris
fiz um papo pa-pum fui pra vital
desci no padrão
fiquei feliz de ver
que o padrão de preço do padrão caiu
mas mantendo o padrão
comprei o mês de uma vez
por um tostão
já no efeito do barato
cheguei na pensão e achei um gato
ou gata,


me jogou um charme
pus as compras no chão
e fiz um chamego

esse fim de dia
foi pura poesia

24 de agosto de 2012

Esquece

Ônibus a noite
Não aguento
Traz a tona um tempo...
Solidão

Lembra aquela melancolia
que doía
fazia
poesia
ser sombra
sombria
e só

fazer sombra era o melhor que eu podia

Esquece.
— Próximo desce!

25 de julho de 2012

8:40

O tempo corre
mais rápido do que eu
O tempo corre
mais rápido do que eu
O tempo corre
mais rápido do que eu
O tempo corre
mais rápido do que eu

Eu não quero papo
eu 'to atrasado
tinha que ir embora
mas perdi a hora
sai da minha frente!
vê se não me enche!
eu não tenho tempo pra falar!
que eu não quero papo
que eu 'to atrasado
tinha que ir embora
mas perdi a hora
sai da minha frente!
vê se não me enche!
tenho só cinco minutos pra estar lá!

Eu não queria mas eu tenho que correr agora pra valer
a vida na cidade traz insanidade sem que a gente tenha quem nos socorrer
eu 'to muito estressado, eu 'to atrasado, é sempre complicado se locomover
eu quero acabar com isso, quero menos serviço, quero uma vida minha pra poder viver


e eu quero viver
eu quero viver!

O tempo corre mais rápido do que eu
O tempo corre mais rápido do que eu
O tempo corre mais rápido do que eu...

19 de julho de 2012

seta para o amor

A menor distância entre dois corpos
é uma curva
a reta é contramão
de certo resulta
a uma colisão
a uma rota direta
e reta a uma multa
uma infração

eu sinto
que a menor distância
entre os corpos
é um grande labirinto
o caminho direito
do que bate no peito
é uma rota complicada

a menor distância entre
o copo
e a água...
é a sede

ela jogou um verde
eu joguei um maduro

maduro
entre quatro paredes
dessa intrincada rede

6 de julho de 2012

Estive um amor
há um tempo atrás
um tempinho faz
histórinha bela
que eu tinha com ela
é a minha ex 
mas ela é es...
pecial

28 de junho de 2012

Por favor meu Deus tão lindo
Protege minha mãezinha

Porque ela é a pessoa mais boazinha de todas
e eu não quero mais chorar

26 de junho de 2012

fugir pra beiramar
amarrar a corda da rede e deitar
amortecer minha vida
chamar em clamor,

ta meio difícil
não-reclamar

quero uma muda dança
uma rosa pra cheirar
um buquê

13 de junho de 2012

Hoje não

Não tenho tempo pra me sentir só
não tenho tempo pra me revoltar, ser poeta, gozar, nem escrever a terceira linha

14 de maio de 2012

Quando cantas parece-me patética
quando bradas-me ênclises hifênicas
tu que falas, linguagem vã poética
categoricamente esquizofrênica

a desculpa é pautar-se numa estética
que carrega arbitrária fama edênica
E assim faz anacrônica mil réplicas
que à nossa linguagem são polêmicas

nesta fórmula esdrúxula ainda rimam
muitos loucos e outros a ensinam
como a mais bela língua portuguesa

assim forjam divórcio com o povo
do que tão popular era ao vir novo
esquisita receita sobre a mesa

10 de maio de 2012

esquece...

Esquece esse otário, esse cara
que não te merece
se dói, se moi, mas para
que ele não cresce

que eu posso te dar mais
que eu quero ser capaz
de fazer você sentir paz

Meu bem! Eu sempre te olhava por aí andando
e sempre chorava calado, te desejando

agora...
vem pra cá

eu vou mudar
eu vou falar
eu vou cantar
eu vou gritar
eu vou te amar
eu vou dançar
eu vou virar
tudo que eu sempre quis
vou ser alguém
capaz de te
fazer
feliz

21 de abril de 2012

Mais um dia solitário

O problema às vezes é reparar que nada acontece
esse ridículo caminho que percorremos sem poder parar parece em círculo
O problema é reparar que tudo se repete.
olho para tras e vejo que em um ano nada mudou
após tantas perguntas continuo cheio de dúvidas
após tantas paixões continuo só
após milhões de chances, tentativas frustradas
continuo sendo incapaz de fazer certas coisas
continuo sendo incapaz de falar certas coisas
continuo sendo incapaz de falar certas coisas
incapaz de resolver meus problemas
O problema é pensar que fazemos nossa vontade
que nossa vida é consequencia dos atos
que somos fracos e só temos rimas fracas
O problema é ver que a felicidade escapa.
no caminho, objetivo onde podemos parar

nos pomos em sentido, vemos que não há sentido
e voltamos a dar voltas no quadrado no horário
o problema é olhar pra trás em mais um aniversário
ver tudo repetido em mais um dia solitário
nessa hora rimar não tem graça, o calor não aquece
O problema às vezes é reparar que nada acontece.

1 de abril de 2012

tao liberdade

melhor do que fingir
não me abalar com nada
é então deixar fluir
lágrimas alcoolizadas

10 de janeiro de 2012

Plano pra dois mil trinta e oito e dose

A violência está por todos os lados

em casa
escola
facul
busão
ambulância
camburão
na favela
na prisão
jornal
televisão

me apavora
desespera
me revolta

vou fazer alguma coisa
vou me armar
vou reagir
vou silenciar
vou apagar
punir
prender
matar
destruir
por um fim

Em toda a violência
que há dentro de mim

8 de janeiro de 2012

O Ladrão II

— UM LIXO ESSE COMENTÁRIO. PARE DE ASSISTIR TV À CABO CAVALHEIRO


— Um esquerdista hipócrita ofendido. Vc devia pelo menos se identificar. Eu sou aberto ao debate, mas não a ofensas infundadas. Afinal, se a TV à cabo tem algo a ver com a história acima vc não deve ter lido direito. Com tanta gente honesta por aí, que dá o coro por um salário mínimo, eu não devo me revoltar com isso? Lógico que não é o fim do mundo, mas sim, achei o conto ridículo e achei o papo sobre amizade com ladrões ridículo, pois é inverossímil.


— Eu faço essa aula com o ceschin de quarta-feira, primeiro horário. Chamo-me José Eduardo, perdão pelo anonimato. Mas, que diferença faz colocar ou não o meu nome. Seu comentário continuará sendo ridículo e tão profundo quanto um pires. E o que isso tem a ver com esquerda? A esquerda neste país, nunca existiu, sempre foi coisa de revoltadinhos de classe média que tomavam todos os dias o nescau preparado pela mamãe. Não gostaria jamais de debater contigo, pois você e sua "geração lady-gaga" não tem nenhum conteudo que não seja repetição de gestos da tv, da internet, enfim, de hollywood. E, bom seria se soubesses, a "honestidade" é um argumento antes de tudo, calvinista, que serve somente para legitimar o poder "não honesto" das classes dominantes. É a moral burguesa,(sem clichês esquerdistas). Mas acredito enfim, que tu não sejas classe dominante, e portanto, que seja um "honesto". Portanto, é verossimil que tu não engulas o conto do Drumond (que voce, afinal transformou hollywoodianamente, em teu conto moralizante)e que também não engulas o furto da tua lanterna. Justo. Mas o que voce engole de bom grado é justamente os "ILUSTRES BANDIDOS" que voce financia com os altos impostos que você certamente paga. Isto, voce engole. Seria bom você reler o conto sem a ótica de hollywood e dos fast foods. Pra terminar, quero que saibas que me senti terrivelmente ofendido por tu teres referido-se a mim como esquerdista. Mas como tu também me chamaste de hipócrita, deixo para lá a ofensa e agradeço o sagaz reconhecimento. Afinal, estou sendo hipócrita comigo mesmo, pois estou dando muita atenção e importância, a um comentário tão pobre de espírito como o seu. Exorcise-se um pouco desse seu mundinho vazio e de reprodução de falas e gestos. Leia Guy Debord.


— Revoltadinho de classe média é o que alguém tão educado me parece, mas ok. Vou aceitar que você não faça o perfil aparente, evitar te julgar como você arrogantemente fez comigo. Não fundamentou sua crítica. Guardo para depois a sujestão de leitura. A questão é que sou roubado todos os dias e ainda tenho que aguentar alguém que diz que o culpado de um roubo é quem deixa a janela aberta. Não aprovo a imoralidade da classe dominante, o cu não tem a ver com as calças, mas justificar imoralidade por imoralidade é sim hipocrisia, "cavalheiro". E o senhor deveria ter um pouco mais de respeito e enxergar sua própria ignorância, maior ou igual a minha.


Começo a achar q ninguém mais lê esse blog, mas insisto nele. O diálogo descrito acima foi resultado de um comentário educado feito sobre uma postagem chamada "O Ladrão", que republico.

Sócrates foi provavelmente o mais incrível pensador que já existiu. Ele foi o gênio da época decadente da Grécia clássica. O maior gênio por ser capaz de perceber que o ser humano nada conhece a não ser a techne, a arte, que seria um conhecimento específico e limitado; e a maior sabedoria realmente seria conhecer a própria ignorância. Enxergo a nossa era atual como a decadência do mundo como tem sido e começo a achar q precisamos recuperar o conhecimento da condição humana de completa ignorância.
Realmente detesto gente que acha que manja das coisas. Gente que acha que existe discurso sem moral ou sem ideologia. Não gosto de gente hipócrita, preconceituosa e folgada.
Eu sei só que não sei e desconfiando da palavra de artistas filhos de fazendeiros como foi Carlos Drummond de Andrade, discordando eventualmente mesmo de professores, procuro fazer o que seres petulantes e bitolados como meu eventual visitante e todas as pessoas deveriam fazer. Pensar por mim mesmo e assim elaborar a minha ideia do que pode nesse mundo ser considerado verdade. Não acho que vale a pena acreditar piamente em qualquer religião e metafísica. Prefiro pensar no que vale a pena acreditar sobre a vida, se vale a pena acreditar em minha própria existência até.

Galera. Desconfiem de José Eduardo, Guy Debord, Osvaldo Ceschin, Lulalá, rede Globo, de vocês mesmos e até de mim.

O Ladrão

Num dia naqueles em que todos resmungam do frio, acho que o mais frio do ano, fui para a faculdade, após o trabalho, como sempre de bicicleta, na janta encontrei uma amiga com um cachecol enrolado sobre os olhos, com dores de cabeça e fotofobia. Ao chegar às escadarias onde costumo prender a bicicleta um outro ciclista veio me perguntar se era tranquilo deixar alí. Eu disse que sim, disse apenas para ele tirar o velocímetro, porque já roubaram o meu, mas de resto de boa.

Depois do furto sem sentido, por ter sido o furto de apenas a parte de cima, facilmente retirável, que sem o resto não passa de um relógio que atrasa constantemente, decidi não comprar outro velocímetro, que havia sumido pela segunda vez, os dois me custando uns 40 reais. Na hora olhei para o meu guidão, onde só tinha o resto, encaixe, fio e imãs. Do lado tinha a minha lanterna de sinalização, com três funções e pilha fraca, importante para garantir que os carros não me fechem duante a noite, me custou 30 reais, o equivalente a umas 7 horas e quarenta e dois minutos de trabalho, já que neste emprego eu recebo 700 reais por 30 horas semanais o que dá mais ou menos 3,90 por hora. Uma vez quis prevenir de levarem a lanterna, deixei cair no chão de um metro de altura e ela quebrou. Não tiro mais.

Fui para as aulas. Na segunda o Profº Oswaldo Ceschin analizou um conto de Drummond, "O Ladrão". Minhas palavras não substituem a obra, procurem-na, mas basicamente o enredo trata-se de um narrador que fala de uma amiga, que percebe ter sido roubada. Os objetos tinham valor afetivo (e também um valor monetário que foi diminuido pelo narrador, já que alguns eram de ouro e/ou pérolas cultivadas). Diz-se que a personagem não tinha o "horror capitalista ao ladrão", diferente de um vizinho que tenta até caçar ele com arma de fogo. Cosme e Damião, que eram policiais cariocas famosos da década de 60, identificam e trazem o suspeito (com pedido da "amiga" de não o machucarem), ela dá uma de amiga também com o Curió, apelido do personagem que é descrito como pequeno, simpático. Chama ele pra sentar, bate papo, o faz confessar o crime. Ela assume também ter culpa, depois de acusada por ele de o por em tentação, deixando a janela aberta na época do carnaval (com certeza um dia quente). No final ele devolve parte dos pertences, porque alguma coisa tinha vendido e um brinco tinha dado à namorada, eles ficam definitivamente amigos, o vizinho se revolta e se muda.
O professor conclui que o conto é uma bonita história sobre um relacionamento afetivo.
A aula acaba, me troco, vou lá fora, saio e quando me toco sumiu minha lanterna frontal de sinalização.

Nada de "horror capitalista ao ladrão", mas nem tudo dá pra engolir.
Drummond não é mais meu herói.