2 de julho de 2008

O porvir

Durante três anos
sua vida foi assim
por serviço extra
Após dia incomum,
Por meia a duas horas
de segunda a sexta
E por vezes o fim
de semana também

Sempre após trabalho
num banco ele sentava
Num banco de praça,
sozinho e lá ficava
Ela vinha e por lá
passava todo dia
E todo dia, ele
A contemplava e via

Mas ele decidiu certo dia
acabar com essa rotina fria
com essa agonia de fazer nada
pela atitude de quem quer tudo
luz á vida desmoralizada

lá foi ele em sua direção
para falar a frase perfeita
— Que horas são, por favor?
— Quatro e meia, senhor.
Decisão foi certa
Atitude errada
ele ficou calado
ela logo foi-se
mas ficou também com ele a vontade
foi com ela a coragem
té pra simples ois

E assim foi
té um dia,
pouco depois
que ela parou de vir
Ele parou de vê-la
e acabou-se o devir

Diário de um Fraco

Sentado.
Cá estou eu
Cagando palavras inúteis no papel
voando no chão
enterrado no céu

O dia condenado ao remorso total
A noite condenada à alegria infeliz
Bem ou mal
Nada compensa o nada que fiz

Eu choro.

Minha vida está morta
Minhas lágrimas estão secas
Meu corpo abstrato mostra como é concreta a minha dor

Espero que chegue quem se foi.
Espero...
Espero...

Espero que se mova meu corpo
Mentalmente tetraplégico,
Psicologicamente estático,
Inutilmente pensante.

Minha alma está esquartejada e a culpa é minha
Pego pedaços de alma e ponho no papel

Da ponta da caneta para o papel,
Da ponta da caneta para o papel...
Enquanto isso, pontadas em meu coração.

Ah! Nem consigo escrever.
Parece que vivo pra me conter
E aqui conto o quanto isso dói.